Publicado em 10 de novembro de 2017
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo, é um distúrbio do desenvolvimento que acomete, em média, uma a cada 68 crianças. Apesar dos avanços na área, há muitos desafios, como o diagnóstico e a inclusão social do autista. Em meio a essa realidade, especialistas e famílias lutam por conquistas que garantam o desenvolvimento, os direitos e a inclusão desses indivíduos – discussões que pautam esta reportagem multimídia.
“Meu nome é William, tenho 23 anos e sou auxiliar de promotoria no Ministério Público de São Paulo. Acordo cedo, saio às nove e pouco para ir trabalhar. Do trabalho vou direto pra faculdade, estou no primeiro ano de graduação em Políticas Públicas pela USP. Eu quero estar em Brasília. Eu tenho a pretensão de, no futuro, ser deputado federal. O autistas precisam ocupar a política”.
Embora o ar seco do escritório eventualmente exija que ele use uma máscara, no restante do tempo William Silva assume a sua identidade livre do uso de qualquer disfarce. O jovem de 23 anos tem um grau leve de Transtorno do Espectro Autista (TEA), um transtorno do neurodesenvolvimento que, por suas complexidades, ainda gera dúvidas e casos sem diagnóstico.
William foi diagnosticado com o transtorno aos 14 anos; na época, foi incluído na então utilizada classificação de Síndrome de Asperger. Hoje, o jovem faz questão de se identificar como autista e abordar publicamente o tema – sobre o qual, inclusive, tem uma visão bem crítica. Para ele, o autismo ainda é muito negligenciado no âmbito acadêmico. O que, por outro lado, não é um argumento para desconhecer o transtorno. “É muito mais falta de interesse de se informar, por parte daqueles que têm as ferramentas para isso, do que puramente falta de informação”, diz ele.
A discussão sobre o autismo ganhou força nos últimos anos. Segundo um estudo publicado em 2015 na revista Interface – Comunicação, Saúde e Educação, entre 2000 e 2012 o número de matérias sobre o autismo publicadas por ano na mídia brasileira subiu de nove para 95. Apesar disso, muitas informações equivocadas ainda circulam e cercam o tema. A forma de se classificar os graus do transtorno é uma delas.
Desde 2013, com a publicação da 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5), as subclasses que existiam anteriormente – Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Autismo Típico e Autismo Atípico – foram fundidas dentro da classificação de Transtorno do Espectro Autista, agora subdividido em três graus: leve, moderado e grave, de acordo com a intensidade dos sintomas. Em casos mais graves, o indivíduo pode apresentar sinais como a ausência de comunicação verbal e até mesmo uma dependência completa para a realização de atividades básicas. Nos mais leves, o transtorno se manifesta de maneiras mais sutis, afetando, principalmente, a maneira com que a pessoa se comunica e relaciona.
Por conta dessa complexidade, o envolvimento de diferentes especialidades da área da saúde, como neurologia, psicologia e psiquiatria, é fundamental para que haja um diagnóstico correto e, sobretudo, precoce – o que aumenta as chances de promover um melhor desenvolvimento do indivíduo.